A SÚPLICA DO MENINO POBRE
(A Súplica)
Moço, me dá um pão que tenho fome.
Moço, deixa eu catar as migalhas que o moço joga no chão.
Moço, não ria da minha miséria…
Que culpa tenho eu de nascer pobre,
Minha mãe prostituta e meu pai um ladrão?
Moço, não seja mau…
Não atire em minha cara o orgulho de bem nascido varão.
Moço, tenho frio, moço…
Me dá aquela capa velha que vejo em seu porão.
Moço, preciso de escola…
Me dá aquele livro que num vale nada, não.
Moço, me critique, me despreze, escarre no meu rosto
Mas me dê uma oportunidade, moço…
Moço, me odei, moço, me maltrate sem razão…
Moço, Jesus também foi pobre,
Mas você tem a Ele veneração.
Moço, em nome de Jesus,
Não me mate de miséria, não…
(A resposta)
Menino, não chore, quer que a sociedade comigo core?
Menino, venha cá, tome dinheiro mas não comece a falar.
Menino, psiu, menino, não grite com força para este povo ladino.
Você pensa que eu sou feliz?
Pois fique com sua crença…
Menino, se eu contasse…
Talvez você risse, não mais chorasse.
Você é pobre, não entende a podridão da opulência
Que oprime, que ofende…
Menino, você é feliz,
No futuro vai saber onde põe o nariz
E meu filho? Com este carro não vai ser assassino?
Menino, cala, ria…
Você não tem lar e sua mãe é uma qualquer Maria,
Mas você vai ser gente se sair da fome, da miséria oprimente.
E meu filho? E meu filho, este coitado, que faz do mal um trilho?
E quem sabe – que horror! – se um dia não for pedir,
Ao menino pobre doutor, de joelhos humilde perdão
Para que salve meu filho que apodrece na prisão?
Menino, chore, ria,
Você é feliz, é filho de uma qualquer Maria…
(Poesia escrita na década de 1960)
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EDUARDO josé de miranda KRUSCHEWSKY – Escritor, poeta e jornalista. Escreveu 11 livros, 3 HQs com tema histórico e um espetáculo teatral sobre Vinicius de Moraes, Presidente da Academia Feirense de Letras (por 5 gestões) e atual (biênio 2021-2022). Membro do Instituto Histórico e Geográfico de Feira de Santana.