A PONTE RIO BRANCO – Patrimônio Histórico destruído.

A FESTIVA INAUGURAÇÃO DA PONTE RIO BRANCO

(Eduardo Kruschewsky)

 Há coisas nesta “Terra Formosa e Bendita” que o tempo teima em esconder, tornando-se meras lembranças… Quantos monumentos desapareceram e boa parte dos feirenses nunca ouviu nem falar?! O que foi, no passado, fundamental para o desenvolvimento de nossa cidade não mais existe ou, infelizmente, é lembrado, apenas, pelos saudosistas…

Onde está a Ponte Rio Branco, uma obra que muito orgulhou Feira de Santana, tendo completado 100 anos em 2018?

Para construí-la, pesou fortemente o fato de que seria a primeira ponte construída sobre o Rio Jacuípe, em estradas carroçáveis que ligavam o Oeste à Capital. Em todo o interior da Bahia só existia, à época, a ponte que ligava Cachoeira a São Felix, sobre o Rio Paraguaçu.

Autorizada pela Lei 823, de 21 de julho de 1911, a Ponte teve projeto do engenheiro Alexandre Góes, no governo de Dr. Bráulio Xavier da Silva Pereira. Era, então, secretário Geral do Estado o Dr. Theophilo Borges.  Aberta a concorrência pública para a construção, foi vencedora a proposta do engenheiro Portela Passos. O contrato de construção foi celebrado em 25 de março de 1912, já no governo do Dr. J.J. Seabra, quando já era Secretário, o Dr. Arlindo Coelho Fragoso.

Querendo oferecer o melhor, o secretário, mediante nova concorrência pública resolveu dotar o equipamento público de uma superestrutura de aço medindo 170 metros de comprimento. Localizada’ sobre o Rio Jacuípe, entre Feira de Santana e Anguera, os seus passeios eram de cimento armado, sobre longarinas das vigas mestras. As varandas por onde atravessavam os pedestres, eram de rara beleza, protegidas por corrimões de ferro, sendo o gradil de tubos horizontais cuidadosamente embutidos em colunas de ferro fundido. Chamava a atenção as suas cabeceiras ornamentadas por pórticos compostos de três arcos onde, encimando tudo ficavam as Armas do Estado. Construída com a finalidade de permitir, no futuro, a passagem de trens pesados, a obra durou cinco anos, ocorrendo durante a construção uma longa paralização de dois anos.

Enquanto nos gabinetes discutia-se a obra, o povo de Feira e da região aguardava, ansioso, a conclusão de uma ponte que já consideravam sua e tornaram-se comuns piqueniques nas proximidades desta, todos atraídos pela novidade, querendo concluída a sonhada “Ponte do Rio Branco”, um grande marco do progresso regional! Naquele tempo, era quase impossível prever uma necessidade de rodovias, devido ao escasso numero de automóveis na região, sendo, pois, a ponte um projeto ousado que encurtaria caminhos, o que demorou muito a acontecer. Mesmo depois de inaugurada, por ela passaram, apenas, muitas boiadas vindas de Goiás, Minas Gerais e outros recantos. Dava gosto, dizem os mais antigos, ver dezenas de burros carregados de mercadorias atravessarem a ponte. Depois de inaugurada, a Rio Branco continuou a ser objeto de curiosidade do feirense que se habituou desde o tempo da construção, nos fins de semana, a fazer grandes piqueniques, indo a pé, em pequenos caminhões ou marinetes. Era uma festa! Além da gostosa feijoada, do churrasco e outras delicias, não faltava a vitrola para uma tarde dançante. O dia transcorria assim: pela manhã, banho de rio, com lugares separados pra homens e mulheres. Depois do almoço, alguns tiravam um cochilo à sombra das árvores e, no meio da tarde, começava o baile vespertino que ia até o dia começar a se recolher e as primeiras estrelas aparecerem no céu, todos regressando, felizes da vida, para a cidade.

A Ponte Rio Branco foi inaugurada em 18 de março de 1918. Concluída a obra, a cidade de Feira de Santana preparou-se para a inauguração a ser feita pelo Dr. Joaquim Arthur Pedreira Franco, Secretário da Agricultura, Viação e Obras Públicas. O ilustre político era esperado, viajando em trem de carreira, no dia 17 de março, sábado, com horário previsto para as 18 horas, mas, inesperadamente, a autoridade antecipou a chegada a Feira de Santana, desembargando por volta das 15 horas e foi um corre-corre… À estação central da cidade acorreram, esbaforidos, o Cel Intendente Agostinho Fores da Motta; o Coronel presidente do Conselho Municipal e pessoas ligadas à política local e de relevância social para receber a comitiva que tinha nomes como o Deputado Cezar Cabral, o Comandante Martins Catharino, além de funcionários da secretaria que era chefiada por ele e representantes da imprensa da capital.

SANTANÓPOLIS: PONTE RIO BRANCO

 Dali todos partiram para o Palacete Froes da Motta onde foi hospedada parte da comitiva e o restante no Palacete do Coronel Bernardino Bahia. Na entrada do Palacete Froes da Motta, foram queimadas muitas girandolas de fogos, a comitiva saudada, em nome do Intendente, pelo Dr. Jacinto Ferreira, discursando em agradecimento o Dr. Pereira Franco.

No dia seguinte, domingo, 18 de março de 1918, prepararam-se todos para ir até a Ponte, concluída pelo Dr. Alexandre Portella à frente de uma equipe de dedicados auxiliares que trabalharam para o engrandecimento e realização do projeto como o competente e hábil mecânico italiano, Leonardo Petrelli e a ajuda inestimável do Coronel Álvaro Simões Ferreira, homem dinâmico que muito colaborou para resolver os problemas que surgiram durante a construção.

Ao ato de inauguração, o povo se fez presente e o Vigário da Freguesia, Cónego Tertuliano Carneiro da Silva, concedeu a benção religiosa. Cortada a fita inaugural, discursou primeiro o Dr. Alexandre Góes, fiscal da construção, entregando-a ao Governo, dizendo-se plenamente satisfeito pela dedicação e esforços dos que a construíram. Usou, então da palavra, o Secretário Estadual Pereira Franco que justificou o nome da ponte em homenagem aos dois Rio Branco, o libertador do ventre escravo e o Integrador do território nacional e entregou a majestosa obra à Feira de Santana. Discursou ainda, o sr. Auto Reis que , em sua oratória, relembrou os esforços de todos os envolvidos com a obra que teve seus recursos liberados graças ao projeto apresentado na Câmara pelo deputado Carlos Pedreira.

A Ponte, no dia da inauguração

Entusiasmada a multidão ergueu vivas ao governo do Estado, ao Dr. Pedreira Franco, ao Município de Feira, enquanto, entre taças de champanhe, as autoridades se confraternizavam. Para o povo, houve generosa distribuição de sanduiches, doces, bebidas e gelados.

Por volta das 14 horas, o Dr. Pedreira de Franco, Secretário de Governo, resolveu se retirar, acompanhado de vários cavaleiros, retornando à cidade. A festa ainda teria prosseguimento.

Às 19 horas, foi oferecido um banquete ao ilustre visitante e à imprensa baiana, pelo Coronel Bernardino Bahia. Em nome do anfitrião, falou o senhor Arnold Silva, fundador do jornal Folha do Norte que, após saudar os visitantes ergueu uma taça ao Exmo. Senhor Dr. Antonio Muniz, honrado Governador do Estado. Em seguida, o Deputado Cezar Cabral ergueu a taça pela prosperidade do munícipio de Feira de Santana. Em nome da imprensa, falou o Sr. Mascarenhas, representante do Diário Oficial que fez um brinde à família feirense, representada pela família de Bernardino Bahia.

A noite foi encerrada com um sarau dançante ao som de uma orquestra local.

Às 10 horas do dia 20, a comitiva do Secretário de Agricultura, Viação e Obras Públicas embarcou em trem expresso sob muitos aplausos e vivas da população feirense que compareceu à estação ferroviária.

Pouco usada, a Ponte foi sendo destruída. No governo Colbert Martins da Silva foi construída um arremedo de ponte que ganhou o apelido de “Passagem Molhada”. Em 2011, chegou a ser reformada, mas sem sucesso. Mesmo servindo a moradores da região, até 2014, quase 100 anos após sua inauguração, a Coordenação Municipal de Proteção e Defesa Civil resolveu interditar de vez o equipamento, ou o que restou dele… Para isto, através da SMT (Superintendência Municipal de Trânsito), a Defesa Civil realizou vistoria técnica atendendo solicitação da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano (SEDUR).

Para determinar o fechamento da passagem, através da Superintendência Municipal de Trânsito (SMT), a Defesa Civil realizou uma vistoria técnica atendendo à solicitação da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano (Sedur). A engenheira civil de Segurança do Trabalho, Elenice Santana da Costa, observou em laudo de vistoria que:

“A superestrutura, correspondente a parte superior, isto é, ao tabuleiro da ponte, o vigamento principal e secundário que absorvem todas as cargas do tráfego transmitido-as a mesoestrutura, que é formada pelos arcos e pilares, estão totalmente comprometidas, necessitando ser reconstruída”.

Local da Ponte destruída, quando de uma enchente do rio…

Assim, da ponte ficaram escombros sobre um filete de rio e, para nós, a dolorosa pergunta:

“QUANDO ALGUNS GOVERNANTES COMPREENDERÃO QUE A HISTÓRIA NÃO DEVE SER CONSTITUÍDA SÓ DE NARRATIVAS, MAS, TAMBÉM DE  RELÍQUIAS PRESERVADAS E MONUMENTOS?!”

 ___________________________________

EDUARDO josé de miranda KRUSCHEWSKY –  Escritor, poeta e jornalista. Escreveu 11 livros, 3 HQs com tema histórico e um espetáculo teatral sobre Vinicius de Moraes, Ex- Presidente da Academia Feirense de Letras (por 5 gestões) e atual ex-presidente. Membro do Instituto Histórico e Geográfico de Feira de Santana.