SESQUICENTENÁRIO DE CASTRO ALVES – Escritor Joaci Goes homenageia o poeta.

 

Este ano, dia 06 de julho, p.passado,  o maior poeta do Brasil, Antonio Frederico de Castro Alves, completaria 150 anos de falecido. Embora não seja data que se deva comemorar, não deveria passar em branco mas, infelizmente, a famigerada pandemia que assola o mundo fez com que isto ocorresse de maneira discreta, sem a pompa que mereceria tal fato.

Foi melhor presidente que houve no primeiro ano de governo', avalia Joaci Góes sobre Bolsonaro -   ACADÊMICO JOACI GOES(Academia de Letras da Bahia)

 Dentre as poucas referências ao fato merece destaque o artigo publicado pelo cidadão Joaci Goes, ex-presidente da Academia de Letras da Bahia; jornalista , ex-deputado federal constituinte (1987-1991); Diretor-Presidente do Jornal Tribuna da Bahia; Co-proprietário da Rádio e Tv Aratu, BA, advogado e autor de diversos livros, entre eles: ” A Inveja Nossa de Cada Dia e “As Sete Pragas do Brasil Moderno”.

                                            O ARTIGO

                                                           Ponto de vista

 Sesquicentenário da morte de Castro Alves

                                                  Joaci Góes

                 ( Para a eminente e culta magistrada Marielza Brandão!)

“Ai, minha triste fronte, aonde as multidões lançaram misturadas glórias e maldições.” Castro Alves

Na última terça-feira, 6 de julho, a poesia reverenciou os 150 anos da morte de Castro Alves, aos 24 anos. Nenhuma poesia exerceu no Brasil tanta influência quanto a sua. Além de ser o maior poeta brasileiro de todos os tempos, é, também, o maior poeta da língua portuguesa e das Américas.

Elegante, pálido, olhos grandes e vivazes, voz poderosa, cabeleira basta e negra, bigodes bem cuidados, sua personalidade arrebatadora se impunha à admiração dos homens e à paixão das mulheres, como descrito pelos seus biógrafos, dentre os quais os baianos Afrânio Peixoto, Pedro Calmon, Jorge Amado e Aramis Ribeiro Costa.  É considerado o mais inspirado de todos os poetas de nosso idioma, não apenas pela grandiloquência do estro hiperbólico, pela sensibilidade e beleza formal, como pela profundidade, amplitude e atualidade da sua exuberante e inconfundível poética. Acrescente-se que nenhum poeta da língua portuguesa incorporou à sua poesia tanta erudição apropriada, e nenhum pode rivalizar no ritmo alucinante, nem na riqueza vocabular dos seus versos. Em sua poesia amorosa, Castro Alves valorizou a sensualidade e o erotismo, as paixões tórridas, a melancolia e não raro o tédio, ao tempo em que flertava com a morte, ora atraindo-a, ora a repudiando com veemência. Com Castro Alves, a poesia romântica no Brasil, a um só tempo, evoluiu, amadureceu, alcançou a plenitude e morreu.

A importância de Castro Alves na vida brasileira vai muito além de sua literatura. Afirma-se, também, pela defesa que fez dos povos oprimidos, os judeus e os escravos. Vestiu os valores morais com a roupagem dos deuses, ao recorrer à linguagem olímpica, através de palavras como águia, falcão, condor, sol, céu, mar, estrelas, abismo, infinito, escravos, grilhões, ferros, aguilhões. Seus temas centrais foram a libertação dos escravos e a defesa da República, que só seria proclamada depois de sua morte. Sua hipérbole em favor da democracia é imbatível: “A praça, a praça é do povo como o céu é do condor”. Assoalhou o luxo da Igreja ao concitar as massas: “Quebre-se o cetro do papa, faça-se dele uma cruz; a púrpura sirva ao povo pra cobrir os ombros nus”.

No poema Ahasverus e o Gênio, defendeu, como ninguém, o povo judeu, o “eterno viajor de eterna senda, espantado a fugir de tenda em tenda, fugindo embalde à vingadora voz”!

Mais do que o poeta grego Hesíodo que viveu no Século VIII a. C., Castro Alves merece o título de Poeta dos Escravos. Quem poderia rivalizar com ele na luta para extinguir a escravidão, na qual avultam os poemas Vozes D´África (1868) e Navio Negreiro (1868)?.

Os assuntos mais sensíveis aos indivíduos e aos povos compuseram o objeto de seu processo criativo, com predominância do amor, liberdade, justiça, o saber, materializado no livro:

“Oh! bendito, o que semeia,

livros, livros a mancheias

e manda o povo pensar.

O livro caindo n´alma

é germe que faz a palma,

é chuva que faz o mar”.

Seu poema “O hóspede” é considerado o momento mais sublime do lirismo da língua portuguesa, em que exprime o sentimento vão que nutria por ele Leonídia Fraga, sua musa infeliz que morreu enlouquecida de amor, agarrada a uma pequena trouxa onde guardava os poemas que Cecéu, amigo adorado desde a infância, escreveu para ela.

Para honrar gente como Castro Alves e Luís Gama, a construção do Museu da Libertação, na chácara Boa Vista, em Brotas, onde Castro Alves morou, é obra que um dia se imporá a governantes e cidadãos estadistas.