WAGNER BOMFIM é médico por profissão e poeta e escritor por puro instinto, como se houvesse nascido com a marca da Poesia ou como diria Drummond, se o tivesse conhecido, “- Vai Wagner, ser poeta pelo mundo!”
Admitido na Academia em março último, o novo ocupante da Cadeira 9, já se ombreia aos veteranos, participando ativamente da vida acadêmica.
São deles estes belos momentos poéticos:
CANTO A FEIRA DE SANTANA
Canto a cidade perplexa entre paralelepípedos
Prisma de todas as vontades,
de homens absortos que vem e se vão.
Atônitos, viajantes, se embriagam da brisa que sopra do este ao entardecer e adormecem no limbo da caipora.
Canto a boiada,
A toada do vaqueiro melancólico deslizando entre as juremas orvalhadas de abril,
Um trinado de chocalhos e corações descompassados.
Canto a uma cidade imaginária
De fantasmas rondando noites frias
Fumaças de uma locomotiva rasgando o recôncavo, entre cheiros de pimenta e caldo de cana, pulmão em atelectasia.
Canto as úmidas entranhas da mulher de face rechonchuda e riso puro, do Tamarindo ao Sonho Azul.
Canto a uma cidade embrutecida e necrófila
sob os cascos de mil cavalos enfurecidos,
Atropelo de sonhos, estivas em balsas inseguras das águas enodoadas de Noratinho.
Canto a uma cidade da qual me apartei
Canto a uma cidade que não se apartou de mim.
AMOR CONTEMPORÂNEO
(DIA DOS NAMORADOS)
Te envio o meu amor,
tecnológico,
veloz,
narcisista.
Repito mil vezes a mensagem
cravando-a de corações.
Anseio teu perfume,
perco-me,
desoriento-me,
volatizo-me enfim
na nuvem desse amor
contemporâneo.